Isto é um excerto de uma coisa que tenho andado a escrever mas com nomes diferentes dos que lá estão.
- És lento! – Percy esperava-o ao portão da escola com os braços cruzados.
- E tu és chato! – O rapaz dos olhos azuis passou por ele lentamente.
Enquanto caminhavam os dois para casa, Eric manteve sempre o olhar baixo para não levantar muitas atenções e não respondeu a nenhuma das perguntas de Percy de tão absorto que estava nos seus pensamentos. Só quando chegaram ao apartamento é que começou a agir normalmente.
- Vá lá meu! Pelo menos responde a uma pergunta! – Eric olhou-o enquanto subiam as escadas e suspirou.
- Que é que queres saber? – Percy pareceu surpreendido ao ver que o seu colega começava a falar de novo.
- O que é que te aconteceu às mãos? – Eric olhou para as ligaduras e depois para os pés. Suspirou de novo enquanto abria a porta do apartamento.
- Passo. – Percy deixou-se cair em cima da sua cama enquanto ficava de mau humor.
- Porque é que vieste o caminho todo calado? – Ouviu novamente “Passo.”. – Almoçaste sequer? – “Passo”. – Qual é a tua cor favorita? – “Passo.” – Não podes passar a das cores! É a mais fácil de todas! – Percy estava a ficar desesperado.
Eric riu-se enquanto se sentava na sua cama depois de ter pendurado o casaco na cadeira e posto a mala no chão.
- Respondo-te a como foi o meu dia. Pode ser? – Percy questionou-lhe com o olhar e ele entendeu isso como um sim.
- O meu dia foi como uma fotografia.
- Eu quero uma resposta normal. Não uma com enigmas. – Percy deitou-se na cama de barriga para cima e com as mãos atrás da cabeça. Sempre a olhar para o tecto.
- Então deixa-me acabar. – Eric esperou por uma resposta mas, como não recebeu nada, resolveu continuar. – Alguns antigos acreditavam que quando tiravas uma fotografia, parte da tua alma ficava nela. Aos poucos e poucos, ia desaparecendo. Por cada fotografia que tirasses, menos uma parte da alma ficava. Estás a ver onde quero chegar? – Percy acenou que sim. – Quando tiras uma fotografia a ti mesmo, ela vai retratar-te a ti. E esse retrato vai ser parte de ti. Eu também não sei explicar muito bem mas, concordo com eles. Mais uma foto, menos parte da alma. – Eric suspirou e imitou a postura do colega. – O meu dia foi como uma fotografia. Ou melhor, como várias fotografias. Parte delas.
Percy olhou-o de lado sem ele reparar. Os seus olhos brilhavam e ele estava tão concentrado nas suas palavras que nada o fazia sair daquele transe. Sobressaltou-se quando ouviu de novo a voz do colega.
- Hoje, à hora do almoço, essa foi uma fotografia conjunta. Foi parte do passado porque se passou há já algum tempo, e parte do presente, porque nunca desaparece da minha mente. É parte da minha alma que se deslocou do meu corpo para ficar sempre nessa memória. Uma…memória má. Uma fotografia…que preferia esquecer. – Eric sorriu tristemente. Aquela era uma das razões por apreciar as aulas de história. Os antigos tinham sempre certas ideias que o fascinavam. Riu-se para si ao pensar em tudo o que já dera em história. A teoria das fotografias sempre fora algo que lhe interessára.
- Fotografias e almas. Tens a certeza que não queres ser filosófico ou uma coisa assim? – Eric atirou-lhe com uma das suas almofadas. Percebeu que Percy só dissera aquilo para desanuviar mas que entendera. – E que tal uma fotografia Eric? – Percy atirou-lhe com uma almofada e tirou-lhe uma foto. Apanhara a cara de Eric no exacto momento em que devia.
E assim esqueceram-se completamente que o pai de Jason vinha ter com eles. Estavam demasiado ocupados a lutar com almofadas…
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