
- A sério? Estás a comparar um desastre internacional com pessoas? Mesmo a sério D.? - Ele encolheu os ombros.
- Porque não? Quer dizer, as Torres eram gémeas mas caíram como caem as pessoas. - Passaram por eles dois miúdos a correr, despreocupados, felizes e o rapaz não conseguiu não cerrar o maxilar e olhar em frente durante alguns segundos.
- Acho que não podes comparar isso. - A rapariga deixou passar o incómodo mostrado pelo amigo e continuou a caminhar ao lado dele.
- Não, a sério. Ouve os meus motivos. - Ela calou-se bem calada e deixou-o continuar. - As Torres Gémeas são como as pessoas porque outrora tão perto e agora tão longe. No entanto, fica sempre aquela memória do que houve e deixou de haver. Pensa comigo: as pessoas formam laços que podem ser quebrados; E são quebrados porquê? - Ele sentou-se no banco pelo qual estavam a passar e a rapariga imitou-o. - Porque acontece alguma coisa que danifica esses laços, como atentado. Vês onde quero chegar?
- Vejo. E continuo a dizer que não podes comparar pessoas com um desastre internacional. - O rapaz suspirou aborrecido por Ela não lhe dar razão e a rapariga lançou-lhe um sorriso fraco - Vá lá totó. Continua. Agora acaba o que começaste. - Ele sorriu.
- Então, o atentado às torres demorou segundos para umas pessoas, enquanto que para outras demorou horas, meses. Existe quem ainda pense que está a passar por isso. Com as pessoas, acontece o mesmo. Há quem ultrapasse a ruptura dos laços em meses e há quem demore a vida toda a esquecer-se. - A rapariga abanou a cabeça e suspirou.
- De onde é que vais buscar essas comparações D.? - Ele voltou a encolher os ombros.
- Da noite. Do espaço vazio. - Ela olhou para Ele e encolheu também Ela os ombros.
- Parece-me uma comparação minimamente razoável.