quarta-feira, setembro 29

Mais ou Menos

Sim, eu conheço-a. Eu amo-a mais do que alguém alguma vez irá saber. Essa lua.
Não, eu não a conheço, essa lua de quem as estrelas e eu tanto gostamos.
Mais ou menos, eu conheço a lua mais ou menos.
Tento e tento, não chego a lugar nenhum. Aos poucos e poucos farto-me. Depois recomeço. Porque o interesse por conhecer aquela lua continua lá. 
E de cada vez que salto para tocar nela, caiu. A gravidade torna-se horrível nesses momentos.
E então, mais ou menos. Eu conheço a lua mais ou menos.
E quando ela fica cheia e eu volto a tentar conhecê-la, sinto-me mal por nunca lá chegar.
E grito, e choro, e volto a sentir-me mal. Porque só a conheço mais ou menos.
Ela não me deixa conhecer o resto.
E quando chega o dia certo, faço asneira e grito com o céu e a noite. Volto a chorar.
Lá volta a lua a fugir de mim, e a ficar pequenina e a tentar desaparecer.
Eu conheço-a mais ou menos. Mas não é por isso que deixo de a amar tanto...

A.M.

segunda-feira, setembro 27

Queres vir andar de comboio comigo?

Às vezes apetece-me saltar as barreiras e correr para apanhar um comboio que parta de Cascais e siga até onde precisar de seguir.
Mas, pensando bem, também me apetece sentar-me no jardim que há em Belém enquanto durmo encostada a uma árvore ou observo o que preciso de observar.
Juntando o útil ao agradável: apetece-me apanhar um comboio que parta de Cascais e pare em Belém. Assim tinha tempo para ver a vista; tempo para ouvir os burburinhos das pessoas inquietas no comboio; tempo para mim.
E depois de gastar o meu tempo a apontar para o céu e a escrever histórias nas nuvens; depois de ver os homens a pescarem e de olhar para o Rio Tejo, apeteceria-me apanhar outro comboio.
Vá lá, quebrar a rotina!
Afinal de contas, ninguém nos incomoda, nada nos persegue se estivermos devidamente ocupados.
E, sozinha, acabaria por me safar, mas não seria a mesma coisa.
Pergunto-me se queres vir andar de comboio comigo até o bilhete ficar gasto e velho.
Eu tomo conta de ti, tu tomas conta de mim.

E então, como é? Queres vir andar de comboio comigo?
Prometo que pelo menos tentamos tocar no céu.

terça-feira, setembro 21

Dá Demasiado Trabalho Não Te Amar

Ela estava sentada ao lado dele, aparentava estar a olhar para a televisão mas, ele percebeu a realidade e abanou a cabeça:
- O que é que eu estou a fazer de errado? - O rapaz olhou para o chão com um olhar desolado. Ela questionou-o com o olhar. - Sim. O que raios é que eu estou a fazer de errado?
- Porque é que haverias de estar a fazer algo de errado D.?
- Diz-me tu... Porque é que apesar de eu estar lá, de te dar de mim tudo o que posso, tu continuas assim? - A rapariga começou a ficar preocupada e deu-lhe toda a atenção, antes virada para os seus próprios botões.
- Assim como D.? - Ele riu-se sem vontade antes de lhe responder.
- És tal e qual a música da maluca da Katy Perry pah... Tanto és fria como quente, tanto dizes sim como não e és demasiado confusa a maior parte das vezes... Tanto me dás atenção como finges que dás, tanto estás comigo no momento como só o teu corpo está lá; Tanto queres uma coisa como dois dias depois parece que nunca quiseste... Deixas-me maluco! E eu nem percebo como é que aguento isto... - Ele levou as mãos à cara.
- Nem percebes?
- Não! Não percebo! És tudo o que quero e às vezes até mostras que, "Hey, também gosto bastante dele", mas de resto? - O rapaz abanou a cabeça de novo e a rapariga baixou o olhar. - Tu sabes o quanto me preocupo contigo e respondes-me que sentes o mesmo mas, a maior parte das vezes nem parece que sentes. E podes crucificar-me por nem sempre acreditar? - Ela disse que não com a cabeça e ele continuou - Por muito que me custe, eu faço tudo para acreditar. Eu brinco às escondidas com os meus sentimentos. Escondo-me da dor, desilusão e tudo o resto. Escondo-me da tristeza quando sei que precisas de mim. Mas de que vale a pena se tu...desapareces.
- Tu não me podes pedir que mude assim do nada, não me podes pedir que me abra para ti quando apenas o fiz a um número mínimo de pessoas.
- Eu não te pedi para mudares! Eu aceito-te como és, não me importo de levar com as tuas coisas, não me importo de ser tipo um caracol que leva a casa de outra pessoa às costas! Custa mas vale a pena porque são coisas que têm a ver contigo e essas coisas interessam-me. Não te pedi nada...
- E depois sou eu que sou confusa? Já não estou a perceber nada D. - Ela olhou para ele e deu-lhe a mão.
- É como me dares a mão. Porque é que o fizeste? Porque te sentes na obrigação sabe-se lá porquê, ou porque te apeteceu mesmo? Ainda mais, se te apeteceu mesmo, será que daqui a dois dias ainda te vai apetecer? Quase nunca consigo perceber se estou a fazer o certo ou o errado, se digo o que devo ou não, se estou a fazer alguma coisa que te magoa e tu não dizes.
Ela continuou em silêncio e olhou de novo para a televisão, ainda com a mão dele na dela.
- Dá trabalho...gostar de ti. Magoo-me, volto a tentar, tenho problemas e mal vejo que também tens, esqueço-me dos meus. 
- Então deixa de gostar D. Eu disse-te que te ia magoar, disse que era complicada. Avisei-te. Não acreditaste. Se acreditaste, não ligaste nenhuma. Deixa de gostar....
- Não posso. Dá trabalho...gostar de ti. Mas dá muito mais trabalho não...te amar...

quinta-feira, setembro 16

Sem Criatividade [3]

"Hoje não me apetece estar com ninguém que me conheça minimamente. Aliás, quero uma semana sozinha, sem que ninguém me conheça"
Isto foi o que eu pensei. Mas na realidade, quero tudo menos estar sozinha.

I want you to need me as much as I need you

domingo, setembro 12

Críticas atrás de Críticas

Ora bem, vamos lá ver isto com olhos de ver.
Criticam se uma pessoa não tem amigos; Criticam se tem;
Criticam se uma pessoa não sai de casa; Criticam se sai;
Criticam se uma pessoa não é simpática; Criticam se o é demais.
Criticam nunca falar com ninguém sobre nada; Criticam se o faço.
Criticam nunca deixar alguém aproximar-se de mim; Criticam se deixo.
Ou melhor, só posso ter amigos, sair, ser simpática, falar, abrir-me com alguém, se esse mesmo alguém for escolhido por quem tanto gosta de criticar.
Ora vamos aqui explicar uma coisa:
Não vou deixar de gostar e não vou deixar de fazer por causa de opiniões de terceiras pessoas.
Tenho dito.

sábado, setembro 11

Chase Coy - Summer Song

"This summer is coming to a close
and i'm starting to figure out
that i cannot live without you
i hope you're thinking of me,
cause all the stars above me sing your name
i'll never be the same again
...
just say those three words i know you're thinkin
i'm sick of wasting time on these formalities"
 
Chase Coy - Summer Song
É ridícula a facilidade com que nos podemos sentir associados a uma canção. 

quinta-feira, setembro 9

Ai Gostas?

- Gosto do cheiro da chuva. - Ela largou o livro que estava a ler e olhou para ele, que estava encostado à janela, com as mãos nos bolsos e a olhar para a chuva que caía ruidosamente lá fora.
- Chuva, D.?
- Sim, chuva. Tipo, o cheiro da terra molhada e assim. É praticamente sempre, o cheiro da chuva. E eu gosto. - Ele suspirou e pôs a mão no vidro antes de se afastar e de se ir sentar ao pé dela.
- Porquê? - Ela pousou o livro e olhou para ele fixamente.
- Hey, não precisas de olhar tão coiso... - Ele disse meio envergonhado e continuou quando ela desviou um pouco o olhar - É assim: eu gosto do Verão como qualquer adolescente normal mas, prefiro o Inverno. Gosto de usar gorros, luvas e divirto-me a ver a minha própria respiração. - Ele sorriu. - É giro. Além disso, quem é que não gosta de correr na chuva?
- E que tal as pessoas que não querem ficar constipadas D.? - Ela sorriu e perguntou-se quando é que aquele rapaz crescia.
- Ahh, então... - Ele encostou-se à parede e cruzou os braços.
- Vá, não penses tão alto que com tanto barulho nem vou conseguir pegar no livro e lê-lo. - Ele abriu a boca para começar a falar e depois parou. - Ias a dizer?
- Tu és dessas? - Ela levantou o sobrolho. - Fazes parte do grupo das pessoas que não querem ficar constipadas? - A rapariga piscou os olhos e encolheu os ombros. - Vou tomar isso como um sim. - Ele fechou os olhos e ela pegou no livro.
- Anda. - O rapaz levantou-se e pegou na mão da rapariga, que já estava confusa. O livro caiu ao chão.
- Ir onde D.?
- Ah, espera. - Ele tirou a camisola e entregou-lhe, ficando de t-shirt. Não lhe respondeu. Puxou-a para a porta e disse antes - Vá, veste a camisola. - A rapariga assim o fez e o rapaz "arrastou-a" para a rua.
- D., estás completamente louco! - A chuva continuava a cair ruidosamente o que fazia com que ela precisasse de gritar.
- Vá lá! Relaxa! - Ele puxou-a para si e abraçou-a por trás. - Agora cala-te, sente a chuva e o que te rodeia. Sente-me a mim... - Ela fechou os olhos. - Brincadeiras de crianças, memórias... o cheiro da chuva pode trazer-te tudo isso. Pensa em tudo o que se pode fazer à chuva; Pensa em tudo o que já passaste durante o Inverno - as coisas boas, as coisas más; Lembra-te de quando éramos pequenos e quando chovia tinhamos de ficar na sala de aula a fazer desenhos; Lembra-te daquele dia em que fomos ao cinema, estava a chover e quando viemos à rua, estavam dois miúdos a correr e a brincar. - Ela sorriu e aconchegou-se a ele.
- Eu lembro-me de isso tudo D., mas se eu tiver medo de ficar constipada, não vou sair à rua para apanhar chuva de propósito. E então? - Ele abraçou-a com mais força e ela abriu os olhos.
- Tu esqueces-te do resto. Depois de te lembrares do que eu te disse, esqueces o resto do mundo. E aí está uma boa razão por eu gostar do cheiro da chuva, vês? Lembro-me de que há momentos na minha vida em que posso esquecer o resto, posso dar atenção ao que realmente importa.
- E o que é que importa? - A rapariga olhou para cima e fechou os olhos.
- De momento, importas tu. - Ele disse meio envergonhado.
- Então, acho que gosto disto do cheiro da chuva. - Ela sorriu mais uma vez e ele imitou-a.
- Ai gostas linda? - Ele deu-lhe um beijo na cara e largou-a para lhe dar a mão de seguida.
- Gosto. - E ele ficou espantado por ter sido ela a puxá-lo para irem correr pela rua.

Para a B. que também gosta do cheiro da chuva e que aparentemente gosta destes textos.
A.M.

domingo, setembro 5

Prometes?

- Menina, porque é que estás a chorar? - Ela estava sentada na beira do passeio enquanto agarrava a mochila com força e chorava silenciosamente quando um rapaz pequeno passou por ela. - A minha mãe diz que as meninas bonitas não podem chorar. Porque é que estás a chorar?
Com muito esforço e com um pequeno sorriso na cara, a rapariga limpou as lágrimas.
- Sabes, quando te tornas um adulto, as coisas às vezes tornam-se um bocadinho complicadas. - O menino olhou para ela confuso.
- Não chores mais menina. - Ela voltou a sorrir e acenou que sim com a cabeça. O rapaz esticou a mão e deu-lhe o dedo mindinho. - Prometes?
Ela ficou a olhar para o rapazinho e a sorrir. Tinha havido uma altura em que acreditava em promessas. Uma altura em que um simples acordo a deixava feliz. Agora era diferente.
- Ela promete. E eu também prometo que não deixo mais isto acontecer. - E Ele abraçou-a por trás e deu-lhe uma flor.
O rapazinho pareceu ficar feliz e a sorrir, afastou-se, deixando os dois adolescentes, quase adultos, abraçados.
- Não deixes que ninguém te deite abaixo. E sorri. Porque podes e porque eu gosto desse sorriso. - Ela voltou a chorar e agarrou-se a ele com força mas com cuidado, para não estragar a flor.
- Para que é a flor D.?
- Porque se dão coisas bonitas a pessoas bonitas e porque não gosto de te ver chorar - Ela escondeu a cara no ombro dele. - Vamos fazer assim, eu prometo que vou ser teu amigo até sempre; Quando formos velhinhos e vivermos num lar, eu prometo que te vou perseguir na minha cadeira de rodas, ok? - Ela riu-se e ele sorriu. Depois olhou para ele e fez o mesmo que o rapazinho pequeno fizera antes:
- Prometes?
- Prometo.

sexta-feira, setembro 3

Hey, queres uma estrela?

 - Hey, queres uma estrela? - O rapaz correu para a água e ficou entretido a dar pontapés nas ondas, deixando a rapariga a olhar para ele sem saber o que fazer mas completamente feliz por o ter. - Vá lá! 'Tás à espera de quê?
- D., é de noite, a praia está vazia e tu és louco. - Aproximou-se um pouco mais da beira da água e sentou-se na areia fria que contrariava o ar quente da noite. O rapaz olhou-a divertido e saiu da água para se sentar ao seu lado. - Quando é que cresces? - O rapaz encolheu os ombros e deixou-se cair de costas.
- Não me respondeste: queres ou não uma estrela?
- Ora bem, se eu disser que sim, vais explicar-me finalmente a tua fixação por estrelas? - Ele voltou a encolher os ombros, motivo pelo qual a rapariga lhe deu um leve encontrão.
- Isso doeu... - Sentou-se rapidamente e atirou-lhe com areia para o colo. Ela deitou-lhe a língua de fora.
- Então vá, se eu quisesse uma estrela, o que é que me dirias?. - O rapaz apontou para o céu e olhou fixamente para um ponto inexistente.
- Quando a tua vida parece uma confusão e não tens escape, não há muito que possas fazer. Inventas piadas sem piada para fazeres alguém rir e tu te puderes rir também; concentras-te em alguma coisa para não teres de pensar no que está constantemente a perseguir-te; Finges que está tudo bem. - Ele baixou a mão e desenhou círculos na areia. - Mas não está. E ou arranjas um porto de abrigo ou sentes o teu coração desaparecer aos bocados. - A rapariga olhou-o concentrada. - Eu arranjei as estrelas. - Ele sorriu e a rapariga imitou-o.Quando o rapaz baixou o olhar para a areia envergonhado, ela deu-lhe a mão e ele sorriu de novo - Sabes aquelas tretas de físico-química que se dão no nono ano? - Ela acenou que sim com a cabeça e ele continuou. - Não me interessam minimamente. Os astrónomos falam e falam mas esquecem-se das verdadeiras estrelas. Do que significam.
- E o que é que significam D.? - Ela tremeu ao sentir um arrepio na espinha e ele abraçou-a automaticamente.
- A verdade por detrás dos desejos.
- Desejos?
- As pessoas costumam pedir desejos às estrelas e elas guardam-os. Quando te perguntei se querias uma estrela, era porque queria que ficasses com uma coisa só tua para se algum dia eu não te puder ajudar, ela te ajudasse. - Ela sorriu e aconchegou-se nele.
- Então estás a querer dar-me uma coisa que para ti é importante. - O rapaz acenou que sim com a cabeça e engoliu em seco muito envergonhado.
- Tu...tu és especial, logo, quero que tenhas uma coisa que seja especial. Nunca te vai chegar aos calcanhares mas...tu, tu percebes... - Ele tossiu envergonhado. - Por isso, ahh, hey, queres uma estrela?
- Quero uma estrela.