terça-feira, março 30

Thank You!

Naquele exacto momento, apercebi-me que já tinha dito mais, a alguém que, conhecia à provavelmente 4 dias, do que a outros alguéns que me conheciam à três anos ou mais.
Choque? Surpresa? Não faço a mínima ideia do que senti mas, suponho que por um lado me tenha sentido feliz.
Não estava mesmo nada à espera de falar com alguém que eu já começava a admirar pelo seu simples sentido de humor. E também não estava exactamente à espera de que a pessoa com quem estava a falar percebesse.
E era um "percebesse" daqueles que eu respeito. Não daqueles que são um perceber sem perceber. Muito confuso, eu sei. Mas irrita-me quando dizem percebo sem nunca terem passado por isso.
Era a primeira vez que eu estava a falar realmente em muito tempo. Tanto tempo que ia jurar que já me tinha esquecido o que era "falar realmente". Sem sorrisos falsos, mentiras e disfarces...
Só...falar realmente...
Depois de me dizer que todos os problemas tinham solução pelo msn, acho que sorri. E foi um sorriso daqueles que não se reparam se não se souber onde procurar. E embora pequeno...era o meu sorriso. Sorriso estúpido, meio alegre, meio confuso, um quarto idiota. O meu sorriso...algo de que eu já me tinha esquecido há séculos, só para exagerar um bocadinho.
Nas semanas que tinham vindo antes...parecia tudo tão...preto. Um buraco sem fundo. O meu buraco. Mas uma simples conversa com alguém que eu praticamente não conhecia, uma conversa onde falei mais sobre mim do que em qualquer outro momento...lançou-me uma escada para sair do estúpido buraco que antes não tinha fundo...
Empatia...ah! Empatia instantânea, han? Não conhecia. Se conhecia, estava cheia de pó num armário cá dentro do buraco.
Acho que gosto disto da empatia... : )
E como eu não sou boa nisto dos sentimentos mas estou a ir aos poucos, admiro-te com um ponto final e parágrafo no final.
Obrigada por essa magia que eu não conhecia mas que me ajudou...
E como "espero ansiosamente" foi o que me disseste, termino aqui. Sem ter a mínima noção do que escrevi. xD
E não me arrependo. De ter falado com uma desconhecida que não me julgou e me ajudou. Desconhecida no passado. Agora considero-te simplesmente...a miúda do Big Spender.
Ah, que raios...quero lá saber das alcunhas. Considero-te tu:

A bb sem "e" no meio no seu melhor... : )
Obrigada, miúda da empatia instantânea

“Quem traça o nosso destino? Nós próprios ou já estará traçado?”


Passo a citar: “O destino baralha as cartas, e nós jogamos”. Arthur Schopenhauer.
É verdade. Não escolhemos a forma do nosso destino. Acredito que essa parte não nos compete a nós escolher. Já está escolhida há muito tempo. Talvez até demasiado.
Mas será que não podemos pegar nele e vivê-lo da nossa maneira? Será que não podemos decidir qual a porta a escolher?
Que espécie de Deus seria o nosso se nos fizesse apenas como marionetas? Para que teríamos coração se nunca o iríamos usar? Dizer que o destino está escolhido, traçado desde a nascença e não há como escapar dele é um pouco ridículo.
“A cada pessoa é dado um diferente destino para se seguir…e essa pessoa deve segui-lo, não importando o resto. Sempre. Até ao fim. Só há um destino em comum em todo o mundo, a morte.”. Não acredito nisso. Sim, é verdade que cada um tem o seu próprio destino mas, isso não significa que o devemos seguir sem nos questionarmos por vezes. Não significa que o devamos fazer como um cachorrinho obediente que não pára para pensar qual a razão de ter de fazer o que lhe mandaram.
Nós temos um destino predefinido desde o início mas somos nós quem decide como vivê-lo. Somos nós que escolhemos qual o caminho a seguir para cumprir esse destino!
Talvez não possamos mudar o destino, mas eu acredito na minha alma e o meu único objectivo é simplesmente ser. Só há o agora, só há o aqui. Ou nos entregamos ao amor ou vivemos na sombra do medo. Não há mais nenhum caminho, mais nenhuma maneira. Não há outro dia a não ser o de hoje…e o destino? O destino é o amanhã, não me devo preocupar com ele hoje.
Muitos dizem que se o destino já está traçado não há nada a fazer. Se está escrito que na vida teremos sucesso ou insucesso, então é assim que será; Se o teu destino te disser que vais ser escritor, então serás escritor;
Mas sabem que mais? Não há nenhuma possibilidade, nenhum destino ou algum caminho a seguir que possa contornar ou impedir a resolução firme de uma alma determinada.
Pode não nos ser permitido escolher a moldura do destino, mas o que pomos nela, é nosso.
Por isso, não digam que são fracassados na vida porque o destino assim o quis; Não digam que são bilionários porque estava escrito, enquanto outros vagueiam pelas ruas,
O destino pode ter-te dado uma vida complicada e difícil mas, és tu quem tem a liberdade de poder mudar isso! És tu quem escolhe ir à procura de trabalho ou ficar a lamentar-te.
Tudo bem que se deve ter em conta uma pequena coisa chamada sorte mas, se formos determinados, acredito que obtemos tudo o que queremos. E nem o destino pode mudar isso.
Afinal de contas, o destino não é uma questão de possibilidade, é uma questão de escolha: não é algo a ser esperado; é algo que virá a ser conseguido.
Por isso concluo que, os primeiros parágrafos já estão escritos. Mas podemos sempre voltar a editá-los consoante as nossas escolhas.

sexta-feira, março 19

Eu sabia que...

“Eu sabia!
Sabia que o passado ia voltar para me atormentar e, embora à noite, desejasse que ele desaparecesse enquanto dormia, no dia seguinte, ele continuava lá.
Eu podia tentar negá-lo. Podia tentar esconder tudo o que se passara mas, no fundo… No fundo eu já sabia que isso era impossível!
O passado tornara-se uma fotografia demasiado dolorosa com encantamentos que a protegiam de ser esquecida ou destruída e eu sabia disso. E por esse mesmo motivo, sabia que odiava tudo o que me relembrava o passado.”.
Ele olhou-a intensamente e esperou que ela dissesse algo. Algum comentário sobre aquele seu curto monólogo. Mas esse comentário não veio. Por isso, o rapaz continuou e esperou. Olhou para o chão verde e para a sombra proporcionada pela árvore onde estavam ambos encostados e de seguida abriu a boca para falar ao mesmo tempo que a observou enquanto ela brincava com a pulseira nervosamente. A turma sentada em roda continuava a olhá-lo e a professora de teatro imitava-os com interesse.
“O passado nunca poderia ser esquecido. E eu sabia disso. Sabia que tinha sido esse mesmo passado que me tinha tornado no que eu era. Sabia que todas as memórias, tanto dolorosas como pacíficas, continuariam lá. E tinha a noção de que não havia nada que me salvasse das memórias que eu tanto detestava.”.
Parou e voltou a olhar a rapariga ao seu lado. Ele nem se dava conta que todo o monólogo estava dirigido a si. O significado por detrás de todas as suas palavras suaves e calmas. “E no entanto, eu sabia que todos os erros que cometi e que faziam parte do passado, iriam voltar para me controlar e não havia que eu pudesse fazer acerca disso a não ser tentar desviar-me deles. Mesmo sabendo que para o conseguir, teria de abdicar de tudo o resto na minha vida.”.
O rapaz suspirou ao ver que a rapariga ao seu lado continuava a brincar com a sua pulseira. Olhou-a tristemente e esperou que mesmo não o olhando, ela estivesse a ouvir atentamente e estivesse a usar toda a sua inteligência, que parecia saída da própria Atena. Baixou a cabeça e voltou a respirar. Quando olhou para cima, cruzou o olhar com a professora de teatro que o tinha feito começar um monólogo com o tema “Eu sabia que…” e perguntou-se se ela seria uma daquelas professoras que sabiam de tudo o que se passava na vida dos alunos. Voltou a olhar para o céu e para tudo o que o rodeava, reparando em praticamente todos os movimentos da equipa de futebol americano que treinava no campo ao lado.
“E mesmo sabendo que a única maneira de não voltar a cometer os erros seria abdicar de tudo, não consegui. Porque abdicar de tudo seria a minha morte. Ficar sem a única coisa que me mantinha são de mente…seria de mais. E aí sim. Aí eu saberia que abdicar de tudo teria sido um erro ainda maior que todos os outros. Seria egoísta da minha parte não abdicar mas, eu sabia que nunca conseguiria fazê-lo. Por isso, eu sabia que mesmo tentando, não conseguiria.”.
Deu o monólogo terminado por ali e esperou pela voz da professora. Já nem valia a pena olhar para a rapariga ao seu lado. Ele não quisera abdicar dela e ela tinha acabado por apanhar de ricochete todos os erros do passado de que ele fugia.
Focou de novo a sua atenção na professora e voltou a esperar. Ela apenas sorriu, acenou com a cabeça, dando-lhe a entender que o que tinha dito, tinha significado algo e não apenas o embaraço que sentia no interior por a rapariga ao seu lado não ter percebido, ou até ter mas fingir que não tinha. Ouviu a voz da professora dizer que estava dispensado, mas tudo lhe parecia demasiado longe. Voltou a ouvir a voz da professora, desta vez dirigida a um dos seus colegas. Ouviu esse mesmo colega começar a falar sozinho, pelo que interpretou que lhe tinha sido a mesma ordem que lhe tinha sido dada a ele. Levantou-se e olhou uma última vez de relance para a rapariga ao seu lado. Surpreendeu-se ao ver que ela o tinha estado a observar. Tentou sorrir-lhe mas não foi bem sucedido. No final, podia jurar que só tinha feito uma careta. Pegou na mochila já vazia depois de ter deixado as coisas no dormitório e afastou-se do resto da turma. Ao entrar dentro do seu pavilhão e ao ouvir os amigos a rirem-se, esperou com todo a sua alma, ser contagiado. Mas nada aconteceu. Continuava a sentir a sua mente a ser assaltada pelos seus erros do passado.
Dirigiu-se ao quarto que partilhava com o seu melhor amigo e sentiu-se aliviado por ver que estava vazio. A verdade era que ele sempre soubera que os erros do passado viriam atormentá-lo. Ora, sempre estivera à espera que eles viessem. Só não esperara que fosse naquele momento. Naquele momento, quando tudo parecia estar a encaixar-se. Naquele momento, quando ele parecia ter encontrado finalmente as peças do puzzle que faltavam.
Sentou-se na cama e olhou para o tecto. Até as personagens dentro dos posters do seu amigo, pareciam olhá-lo e rir-se dele.
Sim…ele sabia que jamais poderia esconder todos os erros do seu passado mas, também sabia que podia pelo menos tentar corrigi-los. Agora, o “como” era o problema.
Deixou-se cair em cima da cama e esperou por alguma reacção por parte do seu corpo. Infelizmente este já parecia vazio. Esperou, esperou e esperou. Ao fartar-se de esperar, levantou-se e olhou para o relógio de pulso. As suas aulas já tinham acabado, não se teria de preocupar se demorava ou não demorava demasiado tempo. Até ao recolher obrigatório, poderia tentar aventurar-se pelos seus pensamentos sem ninguém o aborrecer.
Pegou num caderno de capa preta e no estojo que estavam em cima da sua secretária e de seguida despejou todo o conteúdo da sua mochila, para cima da cama. Apressou-se a fazer um pequeno monte com toda aquela “tralha”, como gostava de dizer, e guardou o tal caderno e o estojo na já um pouco velha mochila. Saiu do quarto e percorreu o campus até chegar ao local que procurava. Sorriu tristemente para o chão e depois deixou-se cair na relva e ficou a olhar para o céu. Riu-se sem muita vontade ao aperceber-se que algumas das nuvens formavam um estranho coelho. Sentou-se e sentiu o vento passar-lhe pelo rosto. Pegou na mala e tirou de lá de dentro os seus pertences. Abriu o caderno na última página que tinha sido usada e coçou a cabeça levemente. Sabia que nunca ia poder acabar aquele desenho. Sabia que mesmo tendo decorado todas as linhas do rosto da rapariga do desenho, não se sentiria bem ao acabar o desenho.
Socou o chão sem muita força enquanto pensava “Eu sabia que o passado ia voltar. Podia ter pelo menos tentado evitar isto…Ah, raios…Eu sabia que não ia acabar aquele desenho…”.
Virou a página do caderno e pegou numa lapiseira que estava dentro do estojo e começou a desenhar a paisagem que o rodeava. Ele sabia que aquele era o único sítio que o aceitava realmente. Aquele pequeno monte, um dos pontos mais afastados do campus, era como a sua fortaleza e só ele sabia disso. O pequeno ribeiro mais abaixo era uma das únicas coisas que o deixava pensar e ele estava realmente agradecido por isso. Terminou o seu desenho uma hora depois. Tinha desenhado todos os traços e todos os pequenos detalhes do que o rodeava. Sabia que o seu professor de desenho ficaria contente.
Não lhe apetecia voltar para o dormitório, por isso deixou-se ficar. Passado pouco tempo, teve a ideia louca de ir nadar. Ele sabia que era uma ideia louca, sabia disso. Mas já estava farto de tanto saber. Afinal de contas, o “saber que” não lhe tinha valido para nada relativamente ao seu passado. E ele sabia que detestava aqueles pequenos “sabia que” por isso mesmo.
No final, a irracionalidade levou a melhor. Se tivesse sido a parte racional a ganhar, ele teria sabido e percebido que não era propriamente a melhor hora para nadar. Teria percebido que ia ficar doente mas, no fundo, até a parte irracional o sabia. Simplesmente já não importava. Por isso, tirou o casaco e a t-shirt e desceu o monte cuidadosamente até ao ribeiro. Tirou os ténis pretos e as meias e entrou na água gelada. Sentiu os arrepios percorrerem-lhe a espinha e depois mergulhou. Deixou-se lá ficar um bocado até espirrar e saiu. Pegou nos ténis e meias e subiu o monte. Pegou na t-shirt e preparou-se para se limpar com ela. Voltaria para o campus de casaco. Mas minutos depois sentiu os músculos contraírem ao ouvir os passos de alguém que se aproximava.
Viu a rapariga de quem ele não quisera abdicar e manteve-se quieto. Depois, simplesmente lhe disse:
“Eu sabia. Sabia que só te ia magoar mas, no entanto, não quis saber. Queria-te só para mim. Não importava o risco. Eu sabia que estava a ser egoísta, mas não quis saber. Sabia que o passado ia caçar-me e tu serias um dano colateral. Sabia e não quis saber. Queria ter-te. Mas eu sabia”.
Ela mudou o peso do corpo para o outro pé e olhou-o sem nada dizer. De seguida, foi-se embora e deixou-o sozinho. “Ah, raios. Eu também sabia que não devia ter dito aquilo…”. Murmurou entre dentes. Sentou-se junto à mochila e guardou o caderno e o estojo. Suspirou e voltou a olhar para a paisagem ao seu redor.
“Odeio os teus “eu sabia que”. A sério que sim. Já pensaste em deixares de saber? Se calhar tornava-se mais fácil, não?”. A rapariga deixou cair uma toalha em cima da cabeça dele e cruzou os braços enquanto ele a olhava interrogativamente. “Tu pensas que sabes. E o mais provável é que saibas mesmo. Mas e que tal em vez de “eu sabia”, pensares antes “estás a falar do quê? Não faço a mínima ideia do que isso seja.”? Não te precisas de te tornar um ignorante. Basta deixares esses teus “eu sabia que” para o lado durante pelo menos um minuto. Vais ver que não é assim tão difícil.”. Ele olhou para o chão ainda com a toalha na cabeça e começou a tentar raciocinar. “Pára com isso. Não penses!”. Sentiu a toalha desaparecer da sua cabeça e apercebeu-se que a rapariga tinha pegado nela só para de seguida a pousar no corpo dele.
Ele sorriu-lhe e ela retribuiu fracamente. Sentou-se ao seu lado e encostou a cabeça no ombro dele. “Eu pensava que sabia.” O rapaz falou-lhe calmamente. “Mas parece que não. Não sabia que podias ter uma cabeça tão pesada.”