quinta-feira, fevereiro 18

Céu...

"Odeio este céu..."
O seu cérebro parecia funcionar a quarenta a hora e doía-lhe a cabeça de pensar em tantas possibilidades.
Porquê? Nem sequer sabia qual a explicação que procurava para aquela pergunta estúpida.
Sentia-se cansado...deixou-se cair e os seus ombros tremeram juntamente com o seu corpo e os soluços que deixava saírem.
Sentiu uma pequena comichão quando as pequenas lágrimas que andara a guardar, passearam pela sua face e percorreram o seu caminho até ao queixo e caíram no chão com um suave som quase inaudível.
Riu-se sem vontade e teve ainda mais vontade de chorar. Olhou para o céu estrelado que percorria todo o mundo do qual ele queria escapar. Perguntou-se o que seriam as estrelas e voltou a deixar escapar um barulho semelhante ao do riso mas misturado com um soluço.
"Porque é que não desapareces? Porque é que não podes fazer de conta que este Mundo não precisa de dormir?". Falou para o céu e esperou ridicularmente por uma resposta.
Deixou-se cair de costas e teve vontade de limpar a face. Mas não tinha força...
"Quando apareces dói...odeio todas as estrelas que aparecem em ti todas as noites. Odeio as nuvens que tapam a luz e odeio o simples facto de existires..."
Fechou os olhos e sentiu os seus ombros abanarem incontrolavelmente depois de uma onda de choro o atravessar e o deixar completamente em cacos. Ouviu o vento passar sobre si e perguntou-se se aquilo alguma vez iria mudar. Voltou a abrir os olhos e ficou surpreendido por ver a rapariga que o apoiava inclinada sobre si. Murmurou-lhe:
"Porque é que odeias o céu?" E ele respondeu-lhe:
"Odeio o céu porque faz com que o meu pensamento flutue até ele. Odeio o céu porque me faz lembrar um Mundo demasiado pacífico para ser real. Odeio-o porque não posso ter a certeza que existe algo para lá da vida à nossa espera. Odeio-o porque me deixa vulnerável. E no final...odeio-o por simplesmente odiar..."
A rapariga sentou-se ao seu lado e viu o amigo fazer o mesmo. Inclinou a cabeça no ombro dele e suspirou:
"O que é que eu hei-de fazer contigo?".
O silêncio passou por eles e o rapaz voltou a olhar o céu:
"Odeio-o porque ele é como meu...Deixa a chuva aparecer quando está triste e deixa os raios solares atravessarem meio mundo só para todos saberem que ele está feliz...Odeio-o porque nos dias nublados ele sou eu...Não chove, mas também não faz sol para ele. Para mim? Não choro mas também não sorriu."
A rapariga sorriu-lhe amigavelmente e esperou que ele continuasse.
"Odeio-o porque parece sofrer quando troveja e se torna de várias cores...raios, eu também sofro quando algo troveja dentro de mim e não se pode soltar...E quando ele ameaça chover,mas depois não o faz...odeio-o ainda mais. Porque aí...ele é realmente como eu...Sente vontade de o fazer mas não o faz..."
O rapaz olhou para baixo e resmungou entredentes e a rapariga perguntou-lhe o que tinha dito. O rapaz voltou a olhar para ela e suspirou enquanto se levantava e dizia:
"É por isso que nos dias que se seguem vem uma tempestade...Dói tanto não chorar que acaba por tornar-se demasiado exaustivo! Por isso o céu também chora, enquanto a chuva cai ruidosamente...". Começou a afastar-se e olhou de novo para o céu."Odeio-te céu...porque tinha eu de ser como tu?..."

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