domingo, abril 24

O que é o Amor?

-Derradeira pergunta D. – O rapaz estava deitado na sua cama e a rapariga estava deitada com a cabeça no peito dele. Olhou para cima ao não obter uma resposta. Ele tinha os olhos fechados e a boca ligeiramente aberta. Ela sorriu e teve uma imensa vontade de lhe cobrir de beijinhos. Olhou para o tecto e depois para o rapaz outra vez. Deu-lhe a mão e brincou com ela durante um bocado. – Hey. – Pausa. - Hey. – Voltou a pausar. - Acorda, D.
- Hmm…e se eu não quiser? – O rapaz levou a mão livre à cara e deixou-a lá enquanto abria os olhos
- Tarde de mais, preguiçoso.Ela inclinou-se para lhe dar um beijo na cara e Ele sorriu abertamente.
- Já estou acordado. Sem Dúvida. – Esforçou-se para se sentar e a rapariga seguiu os seus movimentos e encostou-se a ele.
- Óptimo. Então responde-me. – O rapaz piscou os olhos, ainda ensonado.
- Hmm…e a que é que é suposto eu responder? – A rapariga sorriu ao senti-lo encostar-se ao ombro dela.
- À derradeira pergunta de vida, visto muitos nunca encontrarem resposta.Ela olhou para ele e viu-o franzir o sobrolho, ao que ela suspirou. – O que é o amor D.? É essa a pergunta.
O rapaz corou ligeiramente e sentiu subitamente uma grande vontade de arranjar um subterfúgio qualquer que lhe permitisse não abordar o que não queria. Tossiu ao aperceber-se que a rapariga ainda esperava pela resposta.
- Então…o amor não se define, não é?Ela acenou que sim - Uma vez eu li que o amor era como a sorte, tínhamos de caminhar muito até o encontrar. Suponho que seja mesmo isso. Uma coisa muito difícil de encontrar mas óptima de ter. – A rapariga olhou para o rapaz e sorriu divertida.
- Consegues ser mais fofinho que isso D.Ele abriu a boca e corou novamente.
- Eu não sou…fofinho.Ela continuou a sorrir e a esperar, fazendo-o suspirar antes de voltar a falar - Amar é… é aprender a canção que está no coração da outra pessoa e cantá-la a essa mesma pessoa quando ela se esqueceu dela. – O rapaz endireitou-se e voltou a tossir, desta vez muito mais corado.
- Vês, eu tinha razão. Muito mais fofinho.Ela riu-se quando ele voltou a abrir a boca e fez um ar de indignado. – Tens mais alguma coisa a dizer?
- Não sou fofinho.
- És.
- Não sou.
- Não amues.A rapariga voltou a rir-se e o rapaz afastou-se dela para se deitar novamente. E mais uma vez, ela seguiu-o e deitou-se ao seu lado.
- O amor é como a guerra. Fácil de começar e difícil de acabar. É esse o meu ponto de vista.
A rapariga sorriu e perguntou-se como é que um rapaz podia dizer coisas daquelas.
- D.?Ele fechou os olhos e ela deu-lhe um beijo na cara.
- Hmm?
- Continuas a ser fofinho.
- Opah!

sexta-feira, abril 15

Gravidade

- Já alguma vez pensaste no porquê? – O rapaz continuou a olhar para o nada, encostado à arvore e manteve os braços e as pernas cruzadas.
- O porquê de quê?Ela brincou com ele, dando-lhe um leve encontrão.
- Estou a falar a sério. Pára…Ele sorriu fracamente e baixou o olhar. A rapariga sorriu-lhe e encostou-se a Ele.
- O que é que se passa nessa cabeça D.? – Dele, Ela só recebeu uma careta.
- Newton.O rapaz esticou um braço e, muito previsivelmente, arrancou uma maçã da árvore.
- Hãn?
- Newton. A maçã. – Ela mostrou-se desentendida e olhou-o de uma forma inquiridora. O rapaz limitou-se a suspirar. – Física Básica. Newton estava sentado encostado a uma árvore, quando uma maçã lhe caiu na cabeça. Teoria da Gravidade e isso tudo. Estás a apanhar? - Ela acenou que sim com a cabeça. – Então, a maçã caiu porque tinha de cair, não havia como impedir. Sim?
A rapariga respondeu afirmativamente.
- Então e o que é que isso tem a ver com porquês? – Virou-se para Ele de modo a olhá-lo de frente.
O rapaz ficou vermelho e tossiu ligeiramente.
- Então, hmm…a maçã caiu porque tinha de cair, não houve culpas a quem atirar…e…ahh...ia acontecer de qualquer modo…Ele coçou a cabeça envergonhado e Ela sorriu.
Algumas coisas simplesmente não mudavam.
Não se pode combater a gravidade, certo?
Ela olhou-o de cima a baixo divertida:
- Certo, certo…
- Nós acontecemos porque tínhamos de acontecer. Tudo o que nos aconteceu, aconteceu porque tinha de acontecer. – Sorriu e respirou fundo. – Mas hey, a gravidade continua a existir. 
- Estás a comparar-nos a gravidade?Ele acenou que sim com a cabeça e continuou a sorrir. – Então, nós vamos sempre existir de algum modo, mesmo separados?
- É mais ou menos isso. – O rapaz piscou-lhe o olho – Achas que suportas?
- Bem, o que é que se há de fazer? Contra a gravidade, ninguém se pode opor. – A rapariga deu-lhe a mão e encolheu os ombros.
- É, eu também suporto…  
E continuaram os dois a sorrir.

segunda-feira, abril 11

Sem Título.

- As pessoas morrem. Todos os dias. Mesmo assim, continua sem fazer sentido. Não achas? Ela não lhe respondeu, limitou-se a apertar-lhe a mão com força. Ele olhou para baixo e desenhou com o dedo, alguma coisa no chão. – Eu acho…
Silêncio simplesmente desconfortável.
- Deus existe? – A rapariga continuou sem lhe responder. – Tu sabes. Aquele Ser que ninguém vê ou toca.
- Não me perguntes isso, D. Ele mostrou-se confuso. Com tudo. E voltou a insistir.
- Supostamente, existe. Não é? Quer dizer…pelo menos, há quem passe a vida toda a acreditar…Eu acreditava… Existe? – Ela olhou para Ele e puxou-o para si. O rapaz deixou-se ir.
- Merda. - Ela voltou a puxá-lo para si, desta vez mais perto – Existe, não existe, é Ele que mata, é Ele que decide quem deve morrer? – A rapariga afagou-lhe o cabelo e Ele manteve-se sereno, nos braços dela. – Isto faz-me confusão.
- Eu sei. A mim também Ela suspirou.
- Em que é que é suposto eu acreditar?
- Não sei D. Simplesmente, não sei…
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- Achas que podes não morrer? – Era uma pergunta estúpida, o rapaz sabia mas mesmo assim, fazia com que Ele se sentisse melhor.
A rapariga beijou-o e sorriu-lhe:
- Acho que posso tentar.
- Obrigado.

“E como não tinha espaço, nem cidade, nem batalhas, vivia em guerra consigo mesma”
Manuel Alegre em “Alma”